Viagem Educacional 2: Ilha das Flores (26/04/2017 - manhã)




O filme Ilha das Flores foi passado para o Grupo Alquimia no dia 26 de abril. Trata-se de um documentário ambientado no ano de 1989, em Belém Novo, município de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil. Grande parte do lixo da capital é destinada à Ilha das Flores. Este lixo é depositado num terreno de propriedade de criadores de porcos. Logo que o lixo é descarregado dos caminhões os empregados separam parte dele para o consumo dos porcos. Durante este processo começam a se formar filas de crianças e mulheres do lado de fora da cerca, a espera da sobra do lixo, que utilizam para alimentação. Como as filas são muito grandes, os empregados organizam grupos de dez pessoas que, num tempo estipulado de cinco minutos, podem pegar o que conseguirem do lixo. Acabado o tempo, este grupo é retirado do local, dando lugar ao próximo grupo.
O filme mostra com simplicidade e ao mesmo tempo com profundidade o sistema de trocas, engrenagem básica, no qual o capitalismo se estrutura: troca de dinheiro por coisas. O dinheiro é o cerne deste sistema: quem não o possui fica excluído do mesmo. Isso nos leva a questionar a ideia de justiça do sistema.
A condição de falta de capital é conhecida como pobreza, o que pode levar os seres humanos a viverem em condições inferiores à de alguns animais. No documentário os catadores de lixo são inferiores a porcos, desta forma como esperar que, nesta triste realidade, estes seres humanos tenham condições, per si, de mudar sua posição social? Enquanto alguns possuem muito, outros mal conseguem para sua subsistência. Uma análise mais apurada do sistema mostra sua completa crueldade: no caso em específico deste documentário, os catadores seguiam apenas o instinto natural humano de sobrevivência.
Os “catadores” do documentário faziam parte do grupo dos indigentes. No entanto, estar incluído neste grupo, significa estar excluído da sociedade. Este documentário nos leva a fazer a triste reflexão de que os porcos estariam mais incluídos socialmente que os “catadores”, já que os suínos, pelo menos, possuíam acesso garantido à alimentação, ou seja, os porcos seriam mais cidadãos do que os catadores de lixo.



Minhas Reflexões

Enquanto na Antiguidade a visão do que seria risco relacionava-se a manifestações da providência divina, com o desenvolvimento científico e tecnológico, o homem passa a ser entendido como responsável pela geração e remediação de seus males, mudando a percepção de como o risco deve ser abordado (FREITAS, 2008). Analisando-se o contexto e a realidade apresentados no filme Ilhas da Flores, e conforme apontado por Rosen (2006), uma das mais importantes funções do Estado moderno seria a de promover e proteger a saúde das pessoas (apud, MAIA, p.14), porém, infelizmente não é o que conseguimos depreender deste filme, em que catadores de lixo vivem à margem da sociedade, abandonados da assistência estatal, sujeitos a riscos diversos, expostos a condições subhumanas.
Durante o compartilhamento, as impressões de cada integrante do grupo sobre o documentário foram organizadas em formato de mural, conforme disposto a seguir. Em geral os sentimentos apresentados pelo grupo tiveram a mesma convergência: desigualdade, injustiça, indignação e banalização da vida. Todas as contribuições foram reorganizadas de maneira a formar núcleos semânticos:

1) Desigualdade; Desigual; Diferenciado; Desigualdade Social.
2) Injusto; Indignação; Tristeza.
3) Novo Olhar; Crítica.
4) Inércia; Dura Realidade; Realista;
5) Ciclo.
6) Banalização da Vida; Desumanidade. 

A facilitadora, então, promoveu a seguinte provocação:

o que o cine viagem e as discussões no grupo podem ter em comum com o nosso trabalho? 

No meu caso, em particular, como trabalho há mais de 3 anos na Ouvidoria da Anvisa, tenho tido oportunidade de experenciar um contato mais direto com as demandas da sociedade no que tange às denúncias e às reclamações, o que tem me sensibilizado a cada dia a ser convidado para aplicação de um 'novo olhar' mais humanizado, pois somos confrontados quase que diariamente a nos colocarmos no lugar dos cidadãos. Recebemos todo tipo de denúncia: desde condições de má higiene de um restaurante, de um supermercado ou de um salão de beleza até casos de contaminação por superbactérias em hospitais; muitas dessas demandas apesar de não serem tratadas diretamente pela Anvisa, são encaminhadas para as Visas locais, via OuvidorSUS, mas mesmo assim, esse contato nos ajuda a desenvolvermos uma olhar mais sensível. 
Nesse mesmo entendimento, no que diz respeito ao documentário, o que mais me chamou a atenção foi a desigualdade social posta em evidência, o que nos leva a despertar esse 'novo olhar' e a refletir se há algum espaço neste duro contexto para a discussão de algum senso de justiça. Realidades como as apresentadas no documentário Ilha das Fontes nos levam a repensar nosso contexto cotidiano, trazendo uma maior sensibilização no que diz respeito à dura realidade daqueles que vivem em situação de indigência, excluídos socialmente e com pouca ou nenhuma expectativa de mudança de vida. 

Referências Bibliográficas
MAIA CS. Inserção da vigilância sanitária na política de saúde brasileira [tese]. Brasília: Universidade de Brasília, Faculdade de Ciências da Saúde; 2012.

Freitas CM. Riscos e processos decisórios: implicações para a vigilância sanitária. In: Costa EA, editor. Vigilância sanitária: desvendando o enigma. Salvador: EDUFBA; 2008. p. 107-124.


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