Viagem Educacional 1: Erin Brockovich (25/03/2017 - manhã)



O filme Erin Brockovich foi passado como atividade para o Grupo Alquimia no dia 25 de março. A problematização do filme gira em torno da contaminação águas subterrâneas em Hinkley (Califórnia) com uma substância conhecida como cromo hexavalente, que é cancerígena. Essa contaminação se deveu às ações da empresa Pacific Gas and Electric (PG&E) que atuou durante anos naquele local. Erin que conseguiu emprego em um escritório de advocacia começa a se interessar pelo caso, e acaba encontrando uma situação peculiar: inúmeros casos de pessoas com tumores e outros problemas médicos em Hinkley. Se levarmos esta problemática para dentro de nossas realidades, sabemos que é passível de acontecer com qualquer um de nós e nada melhor, para nos protegermos, como o exercício da cidadania e a vigilância. 



Minhas Reflexões


Vários participantes do Grupo Diversidade Alquimia (GD3) viram a necessidade de assumirmos no dia a dia de nossas carreiras, ligadas à realidade da vigilância sanitária, comportamentos como os apresentados pela protagonista do filme. Erin nos inspira, pois diante das inúmeras dificuldades como, por exemplo, na conciliação do seu trabalho com a criação dos filhos é um modelo para todos nós de superação, nos motivando a desafiarmos a inércia do sistema que na maioria das vezes não deixa de ser desafiadora. Apesar do pouco estudo, Erin demonstra-se altamente talentosa e persistente, colocando-se no lugar daqueles que estão sofrendo as sequelas da contaminação da água daquela região.
No que diz respeito às percepções do grupo foram elencadas as seguintes questões: superação, desafio, motivação, olhar ampliado e investigatório, persistência, justiça, inspirador, empoderamento e talento.  Em relação à minha contribuição para o grupo, destaquei a importância de buscarmos desenvolver diariamente um olhar ampliado e investigatório das nossas realidades, pois devido ao nosso excesso de ativismo, temos uma tendência de nos isolarmos nos nossos próprios ‘mudos’, nos ilhamos, e esquecemos que fazemos parte de uma rede, de um todo. O olhar ampliado nos faz sairmos desse pequeno mundo, e assumir esse caráter investigatório ante os riscos sanitários.
Este documentário nos fez refletir sobre a prática do trabalho e da importância de um olhar ampliado e investigatório. Percebo que a Vigilância em saúde tem uma função maior dentro de uma sociedade e que é dela a responsabilidade de diagnosticar os riscos sanitários e trabalhar para que o mesmo seja reduzido propiciando uma melhor qualidade de vida.

O risco tem sido alvo de discussões e suscitado grande número de produções acadêmicas. O termo risco tem sua origem na palavra italiana riscare ou na palavra grega rhiza. A primeira noção rudimentar do que pode ser denominado risco, talvez tenha surgido, segundo Covello e Munpower (1985), por volta de 3.200 a.C., no vale entre os rios Tigre e Eufrates, onde vivia um grupo chamado de Asipu. Uma das principais funções desse grupo era auxiliar pessoas que precisavam tomar decisões difíceis. Os Asipus, quando procurados, identificavam a dimensão do problema, as alternativas e as consequências. Em seguida, elaboravam uma tabela, marcando os pontos positivos e negativos de cada alternativa para indicar a melhor decisão. Um outro exemplo, foram as grandes navegações, no século XV, em que surgiu, também, a necessidade de se avaliar os prejuízos causados pelas possíveis perdas dos navios. (apud COSTA, 2009, p. 64).
A noção de risco sofreu transformações ao longo da história, sendo entendido, atualmente, como uma elaboração teórica que é construída com o objetivo de mediar a relação do homem com os perigos, visando minimizar os prejuízos e maximizar os benefícios. 
Na área de vigilância sanitária sabemos que o risco é linha condutora que tem orientado as nossas práticas. Entretanto, apesar da sua importância, não existe um consenso para o tratamento dessa categoria visto a grande multidisciplinaridade dos objetos de sua atuação (alimentos, produtos médico-hospitalares, cosméticos, saneantes, fármacos, serviços direta ou indiretamente relacionados com a saúde etc.), e, também, admitindo o fato de que as noções de risco podem variar em função da estratégia utilizada.
As estratégias de promoção da saúde estão voltadas para a capacitação e conscientização dos grupos, de forma que eles possam intervir na melhoria da qualidade de vida e saúde. A proteção da saúde destina-se a reforçar as defesas, portanto nem sempre possuem causas conhecidas e riscos específicos, ou estão relacionadas a eventos em série. No caso do filme em questão, não havia aparentemente causas específicas para aquela morbidez endêmica, sendo necessário o surgimento de um ator externo (Erin) para trazer à tona toda a mudança necessária para a compensação dos danos sofridos pelas famílias daquela localidade. 
Conforme sugere Oberkampf et al. (2004), o processo regulatório ocorre, na maioria dos casos, em situações de "incerteza epistêmica, ou seja, quando se desconhece ou se tem pouca informação sobre o problema a resolver ou decisão a tomar (apud COSTA, 2009, p. 62), requerendo da vigilância sanitária o uso de estratégias de proteção da saúde. 
Quando se trata da estratégia de proteção da saúde, em que se concentra grande parte das ações de vigilância sanitária, devem-se destacar os seguintes aspectos:
O primeiro está ligado às características intrínsecas da estratégia, isto é, as causas nem sempre são conhecidas (como é o caso do trama em que o filme se desenvolve) e, mesmo quando se conhece não se tem condições de calcular a probabilidade de ocorrência do efeito indesejado.
O segundo refere-se à indissociável ligação entre as práticas de proteção da saúde em vigilância sanitária e o contexto; ou seja, as condições políticas, econômicas e sociais, onde se desenvolve a ação.
O terceiro refere-se ao papel que desempenha a vigilância sanitária no processo de regulação dos riscos.

Outro aspecto relevante neste sentido, e que, também, podemos utilizar como suporte para uma melhor análise do filme, trata-se do uso de tecnologias. Sabemos que para promover o controle de riscos e o exercício do poder de polícia a vigilância sanitária deve acionar um conjunto de tecnologias de intervenção: algumas determinadas em lei e outras que integram outras práticas em saúde. Podemos destacar os seguintes instrumentos:
- a legislação (normas jurídicas e técnicas);
- a fiscalização;
- a inspeção;
- o monitoramento;
- a vigilância de eventos adversos e outros agravos;
- a pesquisa epidemiológica, de laboratório e outras modalidades;
- as ações em torno da informação, comunicação e educação para a saúde. 

O filme Erin Brockovich - uma mulher de talento - nos leva a refletir sobre as consequências que o advento da modernidade nos traz, de forma que os riscos acabam por se tornar elementos característicos dessa complexidade gerada. Segundo Aith (2007), a proteção da saúde exige uma atuação permanente não apenas do Estado, mas, também, dos indivíduos e da coletividade (apud, COSTA, p.41). Apenas vimos o êxito das ações iniciadas por Erin, quando a mesma após um intenso esforço conseguiu convencer a todas as pessoas afetadas, sobre a necessidade de se lutar em prol daquela causa. 
Passando-se para um olhar mais próximo a nossa realidade, entendo que não é possível romancear a história da Visa no Brasil, pois sabemos que é recheada de tragédias que possibilitaram a construção de um novo entendimento sobre o papel do Estado, pressionando as ações de Visa para uma atuação mais efetiva e atenta aos interesses dos diversos atores. Como apontado por De Seta (2007), "por perverso que pareça, problemas sanitários, alguns consistindo em tragédias pontuais ou recorrentes, têm contribuído para a estruturação desse campo". Quando eu era adolescente, lembro-me da emblemática tragédia de Goiânia, o caso do Césio 137, que demandou o fortalecimento e atuação efetiva da Visa, vale ressaltar, também, outros casos corriqueiros na mídia como a falsificação de medicamentos e as infecções em UTIs neonatais. Mais recentemente tivemos o caso de Mariana, um dos maiores desastres ambientais do país, proveniente da queda das barragens da mineradora Samarco, deixando um rastro de destruição formado por lama tóxica. Neste aspecto o acidente de Mariana (MG) possui semelhanças com o filme analisado, pois os metais pesados provenientes desta lama tóxica são capazes de causar potencial efeito deletério à saúde com câncer, úlceras e danos de ordem neurológica, acumulando-se facilmente nos tecidos de seres vivos e, consequentemente, na cadeia alimentar. 

Desta forma, entendo que as ações de vigilância sanitária devem ter natureza, essencialmente, preventiva visando não apenas os próprios danos, mas, também, os potenciais riscos envolvidos. 

Referências Bibliográficas
COSTA, EA., org. Vigilância Sanitária: temas para debate [online]. Salvador: EDUFBA, 2009. 237 p. ISBN 978-85-232-0652-9. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.

DE SETA MH. A construção do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária: uma análise das relações intergovernamentais na perspectiva do federalismo [tese]. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Medicina Social; 2007.





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